quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

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“Nunca pensei em ir para outro clube”

É impossível pensar no Náutico e não lembrar de Silvio Luiz Borba da Silva. Para “Kuki”, apelido que ganhou da sua avó, o clube representa mais que um local de trabalho significa, também, sua família.
Quem torce pelo Náutico conhece bem a história dele no time. Os torcedores da nova geração já têm boas referências do ex-atacante alvirrubro, que, hoje, comanda junto com o técnico Wagner Mancini o time profissional do Timbu. Ele não é só conhecido pelos alvirrubros, mas também pelas torcidas adversárias, que sofreram com as suas arrancadas e com os seus gols. E os números comprovam: na lista dos maiores artilheiros da história do clube, ele ocupa o terceiro lugar, com 184 gols marcados. Na sua frente, constam apenas Bita e Fernando Carvalheira com 223 e 185 gols, respectivamente.
Kuki ainda tem outros números que o fazem ser um dos jogadores mais admirados pela nação alvirrubra. Em 2009, no jogo contra o Grêmio pelo campeonato Brasileiro da Série A, ele se tornou o jogador que mais vestiu a camisa do Timbu. Para escrever mais um capítulo na história do clube, Kuki pretende aumentar os números de jogos e gols deixados quando se despediu dos gramados. O atacante quer balançar, mais uma vez, as redes adversárias para chegar aos 185 tentos e se igualar ao artilheiro Fernando Carvalheira, passando a ocupar, portanto, a segunda posição na artilharia alvirrubra. Ele também quer subir de 389 para 390 o número de jogos em que defendeu a camisa vermelha e branca, mas isso só será possível se o baixinho conseguir fazer o seu jogo de despedida que estava programado para a final do campeonato Pernambucano Coca-Cola 2012 e teve que ser adiado.
Com 41 anos e há três fora dos gramados como jogador, Kuki vive a expectativa de atuar em seu último jogo como atleta profissional. A partida de despedida é uma homenagem da diretoria alvirrubra ao atleta. O jogo ainda não tem data porque ele está se recuperando de uma cirurgia no joelho. Mas o ídolo aguarda a partida com ansiedade. “Este jogo era para ter acontecido em 2011, quando o Náutico se classificou para a Série A… Mas não aconteceu. Em 2012, houve o problema da minha lesão e ele acabou tendo que ser adiado novamente. Sem dúvidas, eu vivo a expectativa para esta partida”, disse.
São 16 anos de carreira. Ele começou como atleta profissional em 1993, no Esporte Clube Encantado (time do Rio Grande do Sul), conquistou 10 títulos entre campeonatos e premiações individuais. Dos quatro troféus recebidos como atleta, três foram pelo Timbu, nos campeonatos estaduais de 2001, 2002 e 2004. O outro foi pelo campeonato catarinense, em 2000. Kuki ainda soma seis conquistas individuais como artilheiro de campeonatos – quatro pelo Náutico (Artilheiro da Copa do Nordeste 2011, 12 gols; Campeonato Pernambucano 2001, 14 gols; PE 2003, 16 gols; PE 2005, 17 gols). A nossa equipe foi ao estádio dos Aflitos e conversou com o ídolo do Timbu. Confira.

Em quem você se inspirou para começar sua carreira?
Comecei a jogar tarde, aos 22 anos, e sempre fui fã de Renato Gaúcho, não perdia um jogo dele no Grêmio. Quando ele foi para a seleção, eu fui para Porto Alegre para poder vê-lo jogar, tinha uns 13 anos na época.
Por que você só começou a jogar aos 22 anos? Esta idade pode ser considerada avançada para os padrões atuais…
Comecei a jogar tarde porque eu trabalhava e, na minha cidade, Roca Sales (RS), não tem essa facilidade para jogar futebol. Em 1993, apareceu a chance de jogar no Encantado. A oportunidade surgiu após o treinador do clube me ver jogando o campeonato amador da minha cidade, quando eu fui o goleador. Ele gostou e me chamou para jogar no clube. Na época, eu trabalhava numa fábrica de bolsas durante o dia e, à noite, ia treinar. Fiquei um ano e meio jogando no Encantado e, até hoje, tenho contato com o técnico do clube que me revelou, Antenor Bergamaschi.
O que o Clube Náutico Capibaribe significa para você?
O Náutico é tudo para mim. Tudo que eu conquistei na minha vida foi através do Náutico. Sempre que falam em Náutico lá fora, as pessoas ligam logo à minha imagem. Eu tenho uma gratidão enorme pelo time, não tenho nem palavras para explicar.
Qual foi um jogo inesquecível pelo Timbu?
O jogo em que ganhamos do Santa Cruz por 2 a 0, em 2001. Foi inesquecível porque o Náutico estava há tantos anos sem título e, naquele ano, iniciou-se um período de transição no clube. Em 2001, o Náutico começou sua fase de crescimento. Então, para mim, foi o jogo mais marcante – e, nesse jogo, eu também marquei um gol.
Qual o título mais importante na sua carreira?
O mais significativo foi o campeonato Pernambucano de 2001.
Como surgiu o convite para trabalhar como auxiliar técnico?
Eu sempre quis trabalhar no Náutico quando parasse, sempre pensava em trabalhar aqui na função de auxiliar técnico. Quem me convidou para continuar no clube foi Berillo. Eu comecei na base do Náutico, onde fiquei três meses, e, mais tarde, assumi a comissão técnica do profissional.
Você encerrou sua carreira como atleta aos 39 anos. Tem algum sonho que não conseguiu realizar enquanto jogador?
Quando menino, meu sonho era jogar em um time grande, sempre pensei nisso. Então, eu realizei esse sonho, não tenho o que lamentar na minha carreira. Sempre corri atrás de tudo o que eu quis e sempre consegui.
Há algum clube em que você gostaria de ter jogado?
Nunca pensei em jogar em outros times, porque sempre sonhei em trabalhar no Náutico e fazer carreira aqui dentro mesmo. Nunca pensei em ir para outro clube acho que por gratidão mesmo ao Náutico, sempre fui muito grato ao clube. Quando jogava bola, recebi várias propostas de outros times, inclusive do Sport, mas eu nunca quis, porque meu desejo era ter uma continuidade no Náutico. Sempre visei isso. Eu sou apaixonado pelo clube, tanto que, todos os dias, eu chego cedinho pela manhã e só vou embora ao fim da noite.
Que treinador mais marcou a sua carreira?
Todos os treinadores foram importantes na minha carreira como jogador – se eu citar um, vou estar desmerecendo os outros. Todos eles contribuíram para o meu crescimento profissional, então, não tenho como destacar algum.
Quando você acha que o Náutico vai consagrar outro atacante com o mesmo potencial que você?
Atualmente, é muito difícil, porque futebol, hoje em dia, é mais negócio… Os empresários querem ganhar, então é difícil um jogador ficar muito tempo no clube. Acredito que, se o Kieza ficar no clube mais uns seis ou sete anos, poderia se tornar o maior artilheiro do Náutico, passar até na frente de Bita (que, hoje, é o maior artilheiro da história alvirrubra).
Atualmente, quem é o melhor atacante do Náutico?
Não vou citar nomes porque não quero desmerecer nenhum jogador. Só posso falar que, atualmente, o ataque do Náutico é bom. (risos)
Qual foi o fato que mais marcou sua carreira no Timbu?
Os títulos que conquistei, a afirmação que conquistei como atleta no clube. Cheguei como um desconhecido, numa idade já avançada, com 29 para 30 anos, e fazer história com essa idade é difícil. Também tem várias coisas boas como o nascimento do Arthur (seu filho que hoje tem sete anos) e o título que recebi o título de cidadão pernambucano.
Qual foi o momento mais triste enquanto jogador?
Foram dois. O jogo que perdemos do Sport, por 1 a 0, pela Copa do Nordeste, e o acidente em que me envolvi em 2003, na saída dos Aflitos (no jogo Náutico 1 x 2 Atlético-MG ), em que morreram duas pessoas.
De que forma você acredita que o esporte pode ser relevante na vida das pessoas?
O esporte é importantíssimo. É um caminho para tirar os jovens das drogas. Esporte é saúde e realização de sonhos. Todo menino quer ser jogador de futebol, quer ser um Messi, um Neymar. O caminho para ser jogador de futebol é difícil, é fechado, tem que lutar muito para alcançar seus objetivos. Eu sempre aconselhei os meninos com que trabalhei na base para não largar os estudos. Essa era uma das maiores brigas que eu tinha com eles, porque eu fazia questão que eles estudassem.
O que falta hoje no futebol pernambucano?
O Náutico está dando atenção à base, valorizando o pessoal da casa. Acho isso importante porque as receitas maiores vão ser conseguidas através de jogadores que venham da base. Nós estamos revelando ótimos valores. Tenho certeza que nos próximos seis anos vamos ter ótimos resultados quanto à valorização dos nossos jogadores.
Você está vivendo a expectativa de atuar pela última vez como jogador profissional em uma partida de despedida. Vem se preparando para isso?
Essa partida era para ter acontecido em 2011, quando o Náutico se classificou para a Série A, mas não aconteceu. O Náutico estava bem no ano passado, disputando o Brasileirão, então programaram minha despedida, mas também acabou não acontecendo por conta de uma lesão que sofri no ligamento cruzado do joelho esquerdo durante um treino. A mídia anunciou a minha despedida e, uma semana depois, eu me machuquei.  Mas, sem dúvidas, eu vivo essa expectativa de poder jogar mais uma vez pelo clube.
Se você tivesse a oportunidade de voltar no tempo, o que ele gostaria de ter feito pelo time alvirrubro?
Eu acho que nada… Eu fiz tudo o que pude, o que estava ao meu alcance.
E o que ainda gostaria de fazer?
Continuar ajudando o clube da mesma forma que eu venho fazendo. Poder estar junto dos jogadores dando dicas, conselhos e ajudando eles. Gosto de conversar com todos, tanto com os meninos da base quanto os profissionais.
Como está sendo sua experiência como auxiliar técnico no Náutico?
Trabalho na função desde 2010. Sempre aprendo com os treinadores. Cada um tem a sua forma de trabalhar, então você acaba aprendendo e vai observando o trabalho deles. É um aprendizado.
Você pretende chegar ao cargo de treinador?
Não tenho perfil para ser treinador. Ficar na beira de campo comandando um time é bastante diferente de ficar lá em cima observando.