Feliz por Rivaldo, ex-técnico chama meia de ingrato. Craque rebate
Claudio Ponei diz que Rivaldo jamais reconheceu o que ele fez para ajudar sua carreira e que deveria trabalhar para ajudar outras crianças em Paulista
Claudio Ponei foi um modesto lateral-direito que rodou por vários times do Nordeste: Íbis, Porto, ASA de Arapiraca, CSA, Botafogo (PA) e Juazeiro. No entanto, aos 60 anos, ele pode encher o peito e dizer: foi o técnico responsável pelo empurrão que fez a carreira de Rivaldo decolar no futebol. Afinal, foi ele que, após o jogador ser dispensado do time juvenil do Santa Cruz, o acolheu na equipe do Paulistano, da cidade de Paulista. Lá, Rivaldo foi artilheiro do Campeonato Pernambucano juvenil, voltou para o clube da capital pernambucana e depois seguiu para o Mogi Mirim, de onde começou a trilhar sua história de sucesso, que inclui o troféu de Melhor Jogador do Mundo pela Fifa, em 1999.
Claudio Ponei com uma revista com a foto de Rivaldo Claudio Ponei mostra uma revista que tem de Rivaldo da época em que o meia foi eleito o melhor jogador do mundo. Ele, no entanto, não esconde a mágoa com o jogador.
Rivaldo jogou dos 11 aos 13 na escolinha do Santa Cruz, onde era treinado pelo meu amigo Mário Santana. Mas, por ser muito franzino, acabou dispensado em uma peneira. Voltou para a cidade e passou a jogar os torneios amadores. Eu, como sempre fui amigo do pai dele, seu Romildo, vim observá-lo em um torneio e fiquei encantado com ele. No dia em que o vi jogar, Rivaldo fez quatro gols. Falei com o pai e o Paulistano o contratou - conta Claudio Ponei, em conversa com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM.
Tão logo Rivaldo foi registrado na Federação Pernambucana de Futebol, Claudio Ponei botou o moleque para jogar. Mas numa posição diferente. Em vez de jogar na ponta esquerda, como normalmente atuava, o garoto virou centroavante, porque era muito mais alto que seus concorrentes.
Rivaldo time Paulistano (Foto: Divulgação)Rivaldo em destaque na foto no time do Paulistano.
Claudio, o técnico está de boné vermelho, acima
(Foto: Divulgação)
Naquele campeonato juvenil, a molecada era muito baixa. Então disse ao Rivaldo que ele passaria a jogar como centroavante porque teria muita vantagem. E foi um sucesso. No total, ele marcou 28 gols. Até que fomos enfrentar o Santa Cruz, no Arruda. Ganhamos com dois gols do Rivaldo. E o presidente, após ver a besteira que o técnico havia feito, quis levá-lo de volta. O dono do Paulistano aceitou a proposta e Rivaldo voltou para o seu clube do coração. De lá, foi para o Mogi e virou o grande craque que todos conhecem - conta Claudio Ponei.
O orgulho de ter sido muito importante na carreira de Rivaldo se transforma em mágoa quando Claudio fala que nunca foi reconhecido como deveria pelo seu pupilo.
- Quando ele começou a jogar comigo não tinha nada. Mal se alimentava. Eu lembro que arrumei uniforme, dei minha chuteira para ele jogar. E Rivaldo foi muito ingrato comigo. Depois que ficou famoso, virou outra pessoa. E que fique bem claro que não quero dinheiro dele, quero uma oportunidade, um emprego. Ele poderia me levar para ser técnico do infantil do Mogi para continuar o trabalho que eu faço aqui em Paulista - diz o treinador, que às terças e quintas reúne crianças do bairro e de outras cidades próximas para dar aulas de futebol. No mesmo campo onde Rivaldo deu os seus primeiros toques.
Claudio disse que faz muito tempo que não fala com Rivaldo. E que também não pretende ir ao estádio do Arruda para acompanhar a partida entre Santa Cruz e São Paulo, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil. Ele até foi convidado por uma emissora de TV local, mas se recusou.
Registro de Rivaldo no Paulistano (Foto: Marcelo Prado / GLOBOESPORTE.COM)Claudio guarda até hoje o registro de Rivaldo no Paulistano (Foto: Marcelo Prado / GLOBOESPORTE.COM)
- Vou lá fazer o que? O que eu tinha de falar sobre o Rivaldo ele já sabe. Se ele não quer me ajudar, tudo bem, que ajude a cidade dele. Que pegue o campo onde ele começou e faça algo, coloque uma grama, dê condições para esses moleques que jogam aqui. No ano passado, mandei oito moleques para o Mogi Mirim. Agora tem mais quatro prontos para viajar. Se ele quiser ajudar, que ajude. Senão faço meu trabalho do mesmo jeito. Sou aposentado, ganho R$ 600 e trabalho aqui nesse campo de graça. E faço isso de coração porque sei que se essas crianças não jogarem bola, vão se drogar, vão começar a beber. E eu não posso deixar isso acontecer - diz Claudio Ponei, em tom de desabafo.
Claudio busca novos Rivaldos em Paulista (Foto: Marcelo Prado / GLOBOESPORTE.COM)Claudio segue garimpando novos talentos no campo onde Rivaldo deu os seus primeiros passos no futebol (Foto: Marcelo Prado / GLOBOESPORTE.COM)
RIVALDO RESPONDE
No desembarque do São Paulo, Rivaldo conversou com a reportagem e rebateu com veemência as acusações feitas por Claudio Ponei.
- Eu prefiro não me estender nesse tema. Já fiz muito para todos. O problema é que as pessoas querem na verdade é tirar proveito e isso eu não vou deixar. É melhor deixar de lado, não dar atenção. Quando você faz isso, acabam te xingando, falando mal. Já tentei ajudar uma vez, mas não vou ajudar sempre. No geral, todo mundo me respeita, mas tem um ou dois que querem coisas, querem isso, querem aquilo, querem que a gente sustente pela vida inteira. Foi apenas um treinador normal, ninguém ensina você a jogar futebol. Quando você percebe que querem abusar, acaba caindo fora. Foi o que eu fiz - disse Rivaldo.